5.4.07

o pequeno amante - Parte primeira.

Estou de pé num salão grande. Um salão com um fresco grande no fundo, cheio, até ao fundo. Sou o único que está de pé. Há um silêncio que entoa nos vidros. Range e solfeja na pele, depois nos olhos, depois na boca. Senhoras velhas, senhoras novas, homens velhos, novos, de meia-idade, crianças com choro nos olhos.
Há vida a declamar nesse silêncio, há os meus olhos que reclamam esse silêncio.
Varro o espaço com os olhos e, também eu faço parte desse silêncio.

Como uma vida pode ser tão privativa, tão restritamente cercada em mim, e no outro. Encontrei-me ali sem conhecer uma única pessoa, só uma conhecia por ver passar na rua. No entanto, a vida desprendia-se do fundo, e era a vida de todos, a mesma entre todos.

Curiosa a sensação. Uma imensidão de vidas, no entanto, só conhecia uma pessoa, por a ter visto passar na rua. Naquele sítio, de pé, não conheço a crença de me apaixonar uma só vez, e acredito que durante anos, apenas conhecemos, uma só pessoa, por a ver passar na rua.

(...)

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