4.2.07

a mulher pirrónica.


No campo existe uma senhora que vende flores. Podia vendê-las na cidade, mas vive no campo, com as flores. E vende-as às pessoas da cidade e às do campo, e ainda às que usam o campo, para na cidade dizerem que são requintadas, porque usam o campo.
A senhora é de meia-idade, tal como as flores que tem na estufa. Numas conhece-se o nascimento, são pequenas e de folhagem macia (Ninguém duvida que uma criança, é de facto, uma criança). Mas numa flor de maior porte, de folhagem tenaz, não se conhece a idade - É de meia-idade.

A senhora sempre viveu com a mãe, doente. Nunca procurou um homem para viver com ela. Procurava vários para simplesmente, viver. Distante no que lhe moldava a vida a florista era vista por todos como uma personagem de um livro fácil. Sem nunca ter sido fácil, mas a distância só lhe deu isso: A acessibilidade de uma charada de trazer por casa.

Organizada e com sangue de chefia. Os chefes existem porque não falam de si próprios. Nunca se apresentaram a ninguém - São chefes. Mas notava-se-lhe no rosto o ardor do pano que mantinha teso na cara.

Fui lá para comprar umas plantas vulgares que sobrevivessem aos meus dias de imbecilidade e à falta de sol. Vasculhei a estufa como um fraco expedito e a florista, ausente, parecia chorar. Uma chefe a chorar. Mas não haviam lágrimas. Estava a empolar. Empolava um silêncio capaz de queimar as plantas todas da estufa e fora da estufa.

Uns instantes a seguir retorquiu umas valentes gargalhadas e falámos sobre flores, árvores de lichias e bonsais.

Ofereceu-me um jarro selvagem e a estufa ficou vazia.

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