31.1.07

vertigem.


Parte I
(ensaio - antes da morte)

As mãos e os olhos na água,
as mãos que mergulham nos olhos
tocam também o chão e o vento.
Que são as palavras quando me desabrigo
E a luz dos sons que as palavras gritam,
Quando me é escrita uma carta que me deixam
No ventre, fundida na cola das palavras.

E parto, partem comigo as cadeiras e as mesas
O suporte da cabeça e dos dedos
Parte contígua a moldura em cólera da dança das bocas
Da luta das cabeças, do peso do ferro
Do peso dos cabelos

Elevados os corpos, sem jeito tocamos os dedos
As mãos que coladas dançaram
Encostaram os rostos nas mãos, sem jeito
que um deus desajeitado uniu num quarto.

Que fosse esta a última visão
Antes que a boca cerrasse o medo
De abandonar a pele deste fruto conhecido
E de nos lançarmos à torrente da fome dos corações
Onde o sal come o ferro e os peixes o coração.
Parte II
(carta depois de nascer)
Vai, espeta o corpo num astro.
Astro de mão que lançado no céu corre um corpo de luz pela mão e as asas ficam leves.
Luz no teu corpo a fundir no céu a serenidade de um voo alado, de duas mãos livres.

Renasce no alto, despe a pele, nasce do alto, atira a morte na terra.
Bonitas asas. Fazem esquecer o vento da audácia. Fazem esquecer o que é pequeno, o que é humano.

Rebenta a nudez e chora. Grita esse dom de fazer a música apaixonar-se por ti, e do sofrimento da escuridão te devolver à cama.

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