5.1.07

locus nevoeiro.



Acordei com a sensação estranha de não pertencer aqui.

O quarto apertou-me a fracção interna do humor e não saem palavras.

Cansado de mim arrasto os deveres num início de manhã, só para que ela seja possível. Só para que eu seja possível.

Penso no valor da falsificação dos minutos, e no preço destes rostos, de todos os rostos.

Hoje não existem aves de enfeite, nem existe céu tão pouco. Engendrei este nevoeiro durante o sono, tal não foi a opacidade do meu corpo.

Ver a prisão espelhada no volume dos outros foi de tal forma asfixiante que cerrei os olhos durante praticamente toda a viagem até ao trabalho.

Sinto que já não devoram a mesma energia de mim, não a posso dar, também não sei a que sobra.

Estou inacessível, é isso. Não me acedo e não adiro à franqueza dos afectos.

Temo que ao disparar este rigor possa gelar o ar e cristalizar os lábios que me deste. Não quero e não subsiste essa vontade.

Quero que a tonalidade das peles fique limpa do opaco que os outros deixaram ficar e que as selecções deixaram ficar, e ainda da sombra ampla que o caos estende numa corda vasta.

Quero sentir a matriz do nosso retrato numa tarde branda, com aves de enfeite e timbres cálidos, e sorrir em toda a extensão das núvens altas, onde estamos nós, a troçar das vicissitudes dos amantes.

Sou eu que tomo esta dança.

Acordo num passo, saio daqui noutro. Não me cansa. Cansa-me antes permanecer o caminho todo numa estação fria. Não tenho casacos que cheguem.

Sou um bicho de sensações tout court, bebo cocktails expansivos e como o lirismo sem guarnição.


Bom dia.


5 comentários:

JohnnyBoy disse...

Se for para escrever assim..venham mais manhãs submersas! (my own guilty pleasure .. sorry).
Bravo!

piquenique disse...

my guilty too ;)

*

Domus quieta disse...

Que venham dias de sol para q o nevoeiro se dissolva e seja devolvido aos meus olhos a percepção da minha realidade!

*

piquenique disse...

:) que venham. *

Anónimo disse...

Que grande inspiração...gosto muito!!Parabéns e continua
Ci