19.1.07

verde génio.


Cheiro a colónia. É sangue de flores e erva, mas tem álcool e fixador.
Isto porque o meu corpo, ao contrário de Kafka, não se “escaravelhizou” (seja isso o que for). E não o fez porque hoje sou um molusco branco e dou por mim a pensar na fotossíntese das plantas e na razão física do verde.
Porque o verde tem um importante significado transfusional, assim como o azul lá de cima (já conheci um rapaz verde e eu já fui azul).
É como as crianças pintam a vida, já repararam, de verde e azul (o rosa e o encarnado só surgem quando lhes dizem que têm namorado(a)).
Grave seria usarem o verde e o azul noutra idade, porque descobrir a masturbação é guardar em caixas o deslumbramento dos guaches.
E há que ser crescido, crescido, crescido, não há tempo para tintas, e magenta é cor de menina. As flores já cheiram a finados porque a água apodreceu. As flores morrem depressa porque são frágeis, por isso não lhes toques, não lhes mires o estame que tem veneno.
É por isso que todos os sábados as senhoras (sim são só senhoras) oferecem a magia do verde ao mármore, porque os mortos são antídotos por excelência, e o veneno não lhes faz mal.
E se não tivéssemos deixado estragar a água das flores, e ao invés de mirar lhes tivéssemos arrancado os estames com a boca?

Será que crescemos, crescemos, crescemos?

Hoje em dia é fácil ser-se brilhante e bem comportado. As pessoas habitam as mesmas casas e todas obedecem ao conhecimento e à cultura das cores. O problema é que lhes falta o génio.

Falta a magia do verde e do azul.






2 comentários:

sonjo disse...

crescemos e entramos no timbre monocromático fugazmente. Não tarda o momento em que seremos todos - o gado. Cumprimentos aos resistentes! Vive La Resistance!

snj

Anónimo disse...

Que visão de berço. Estás cada vez mais tu, e ainda falta tanto de ti. Belo texto. Isto é belo. A desfragmentação das cores e da intimidade, acabando numa verdade tão visível.

Continua, sempre.

A. d'ayres