17.1.07

processo criação de um corpo.



Palavras de lápis, textos a lápis, folhas de versos, versos na carne.

Experimentação. Estagiei na barriga velha de uma mulher velha do campo. Sentia-se o cheiro da lareira, dias depois da queima.
Muitas vindimas, muitos Outonos. Refeições de mosto. E o cheiro do mosto cheira a queima e álcool, cheira a lareira.

Palavras de lápis, textos a lápis, folhas de versos, versos na carne.

Senti corpos trespassarem-me. Houve vidas em trespasse. Era individual como dizem os senhores que pensam no indivíduo.

Palavras de lápis, textos a lápis, folhas de versos, versos na carne.

Senti depois o corpo tomar um corpo mais maciço e as palavras saiam bravas do corpo da boca. Carregava no lápis e nos sons da noite. Sons imberbes porque a noite morria antes do tempo. E eu vivia antes do tempo.

Palavras de lápis, textos a lápis, folhas de versos, versos na carne.

E o tempo pede contas e apresenta factura. E eu vivi antes do tempo fazer as contas. Não teve tempo. E eu também não.

Palavras de lápis, textos a lápis, folhas de versos, versos na carne.

Hoje não sei o que como, mas conheço o cheiro do mosto. Conheço alguns homens e algumas mulheres. Sou individual e sou freguês de cafés. O tempo já fez contas. Deitou-se comigo, e na manhã seguinte estava isento de impostos.


Palavras de lápis, textos a lápis, folhas de versos, versos na carne.

Sem comentários: