16.1.07

restaurante russo.



Ontem subi a calçada e vi dois homens que falavam. Homens de meia idade mas com pele vergada. Homens com velhice na cara (a minha avó também tem velhice na cara).
Falam possivelmente dos empregos enquanto correm a calçada num passo velhaco. Descem com a vontade de esgravatarem as chaves na porta de casa. Casa para bolçarem dentro o silêncio, não pelo facto da casa já estar morta, mas porque a idade já não permite chorar.
Fiquei com vontade de lhes dizer que fariam alguém feliz se chorassem. As lágrimas lavam manchas de mofo, de roupa e de raiva.
Dir-lhes-ia ao cruzar-me, que tenho na algibeira um volume de desencontros e um maço de mulheres perdidas. No casaco tenho homens que nunca se perderam. Nunca se encontraram.
Gostava de ter carpido com eles, ali na esquina do restaurante russo, onde provavelmente alguém dançava kalinka.

E sim, fazia frio e as línguas bafejavam.

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